sábado, 18 de dezembro de 2010

"O outro, se não tem razão, tem suas razões"

Essa foi a frase mais bacana que ouvi do Coutinho e que me pareceu no momento a tônica de um bom documentarista. Essa capacidade de se despir de crenças e preconceitos e tentar viver um pouco na pele do outro, antes de sair a discorrer sobre os males do mundo. Talvez ser documentarista agora implica ir contra o individualismo que rege nossa vida cotidiana: parar para olhar e ouvir o camponês, indivíduo dos mais injustiçados e desvalorizados, cuja sabedoria e existência ultrapassa - a meu ver - as de intelectuais que citam Darcy Ribeiro e Milton Santos, mas não enxergam um palmo fora da zona em que nasceram e cresceram com suas babás negras vestidas de branco. O documentarista verdadeiro não pre-julga, mas busca conhecer - sentir a existência pra fora dele - e assim poder olhar o mundo cada vez mais deslumbrado com o que vê.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

conto de chegada porteño


Pois assim foi:

Voo da pluna até montevideu, e outro a Buenos Aires. O aviao parecia um onibus, pequeno e desconfortavel, mas a comida era boa. Durante o processo todo ficamos amigos: um casal de brasileiros, uma meia brasileira-americana - que vive na capital argentina e faz um tratamento para emagrecer - e eu. Na chegada, uma outra amiga dela, Jimena, também gordinha e participante do tal tratamento, a esperava com seu tio taxista, Marcelo. Resultado: o gentil hermano ofereceu nos levar a todos até suas casas, de graça. Fomos entao os 6 no táxi, bastante apertadinhos. Eu na frente com Jimena e o motora Marcelo e os outros 3 atrás. Tive a sensação meio angustiante de não conseguir me comunicar, nunca havia estudado espanhol, tampouco queria falar português, o resultado era que eles não entendiam nada do meu portunol de primeira viagem. Passeamos então por toda a cidade, e aquela tentativa de comunicacao taxistica me cansava ainda mais, achei que nao aprenderia espanhol mesmo...
Para me causar um pouco mais de tensão, fui a última a ser deixada pelo tio taxista, depois das gordinhas e do casal de brasileiros, que ainda recusou dinheiro que o motorista os oferecia, pois não tinham trocado pesos suficientes no aeroporto. Depois dessa oferta eu quis crer na bondade do sujeito e lá fui eu sozinha no taxi, rumo a san telmo, rezando para que ele fosse um cara legal de verdade e não um patife de primeira linha, ou um canalha, como diria o nelson. Depois de uma hora, cheguei ao meu destino final, bem atrasada pro jantar com meus amigos no albergue embora bastante 'contenta' por ter sobrevivido a mais uma aventurazinha de burguesa latino-americana e me sentido num road-movie sem nada ter produzido pra tal.

errância matutina

Depardon comenta sua errância pelo mundo e seu modo de conviver com a solidão, se aceitando e se olhando, enquanto busca a fotografia genuína, de seu próprio olhar. No movimento de fazer parte do ambiente ele foge do ponto de vista objetivo de repórter - de uma maneira de ver excludente, que afasta o ambiente mais abrangente a que deseja se ater. Depardon então se depara com ele mesmo, suas buscas pessoais e manifestações sensíveis.

Através dessa leitura, me veio a oportunidade do pragmatismo, de conectar-se ao aqui e agora, ao trivial e simples desse momento. Escapar das divagações entre céu e terra, passado e presente e aceitar a si próprio e ao que se vivencia, para lá do bem e do mal.



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

confissões em 8 de dezembro

confissão primeira: adorei RED - o filme de ação -, os aposentados da CIA (ou será FBI?) ultrapassam qualquer expectativa de coronel nascimento!

confissão segunda: fiquei pensando no porquê da minha não-crença nos filmes de ação hollywoodianos, seria ignorância?

confissão terceira: existem pessoas com as quais eu espero nunca mais precisar trabalhar conjuntamente, nem perto e menos ainda longe. sinto dizer isso, mas é verdade. mesmo num mundo tão belo e no qual ainda acredito, é verdade.

Poema japonês para guardar na memória.


As pérolas brancas
Sobre minhas mangas caídas quando com o coração
ainda repleto
Nós nos deixamos
Levo-as
Como uma lembrança de você

Kokinshu

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

constatação pragmática paulistana

Sentada num café da paulista - com os pés encharcados pela garoa numa sandália plástica preta e inadequada pro momento - descubro algo que me irrita profundamente e me impede de criar e fluir: meu pensamento incessante é por demais pragmático. Tento fugir sempre; agindo, atuando, lutando. Quando parada isso me irrita pois não estou de fato abstraindo ou sonhando. Só sonho dormindo, e muito; isso me desgosta e me faz sentir uma burocrata da pior estirpe.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

ar na nuca

Adoro pedalar pelo aterro e me sentir turista, não o sendo. Rola aquela sensação de contemplar o mistério do mundo, de se surpreender com a paisagem, o lugar de cada coisa no mundo e o jeito que cada ser vivo se coloca pra você. Esse deve ser o melhor turista que se pode ser, e a minha façanha foi na cidade onde vivo! Fico ainda mais feliz se isso significar que não me tornarei uma turista inveterada por compras e fotos!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Apesar das fortes discussões às quais me submeti no dia, ele acaba bem. A salvação começou indo ao Saara com uma amiga, em busca de jardineira pra janela - de tamanho ideal, pois até metro ela tinha pra checar a adaptação - carrinho de feira e chapéu da casa alberto.
Descobri então o Laranjinha, cuja fama já me tinha sido avisada, mas só agora pude apreciar um belo pastel com laranjada, num ambiente em que todos são habituers, e me fez sentir meio pouco cidadã do mundo. Não se aceita cartão e as fichas são para diferentes seções: a da laranjada, pequena ou grande; a do pastel, de seis diferentes sabores. Demais um lugar onde não tem refri, nada, só laranjada. Bom pra testar o nível de frescura das pessoas, quiçá. Depois disso, café na Cavé e filme do Tsai, FACE. Me gerou vontade de tudo, vontade de arte, de sentir, relembrou o prazer de criar, tocar, fuçar.. sei lá, foi incrível.