sábado, 26 de setembro de 2015

trecho do prefácio de merton e as aves de rapina




É necessário despertar para a grandeza que somos. ACORDAR! Mas como é difícil. A existência humana transforma-se numa simples rotina de fatos que nos impelem a pensar, agir mecanicamente. Em todas as épocas os textos de uma tradição verdadeiramente religiosa (...) chama atenção da necessidade do homem despertar para a realidade. No Katha Upanishad está dito:

"Este é o caminho. Esta é a mente suprema.
Ele está oculto em todas as pessoas.
Por esta razão não brilha!
Mas é visto pelos grandes videntes.
Levanta-te! Desperta!
A senda é estreita como um fio de navalha."

(...)

A luz existe. Ela não tem culpa se os homens continuam de olhos fechados.

"O homem está pronto para se tornar um deus e, em vez disso, parece por vezes ser um zumbi."



terça-feira, 22 de setembro de 2015

correspondência do sul de minas



10 de agosto: dois mineiros estão caminhando pelo pasto quando se deparam com um monte de bosta de vaca. um deles desanda a rir, no que o outro vira e diz:
      cumpadi, cê tá rindo do quê?
      ah, cumpadi, diz o outro, eu tô rindo d’ocê.
      de mim?
      sim, é que ocê vai morrer, e aí nós vai enterrar ocê. cê vai virar adubo, depois esterco, mato, e a vaca vai te comer, e cê vai virar esse monte de bosta aí.
eles continuam andando quando o segundo mineiro desanda a rir. o primeiro então pergunta: – tá rindo de que, cumpadi?
      ah, cumpadi, diz o outro, eu tô rindo d’ocê.
      de mim?
      sim, é que ocê vai morrer, e aí nós vai enterrar ocê. cê vai virar adubo, depois esterco, mato, e a vaca vai te comer, cê vai virar esse monte de bosta, e eu vou dizer, ô cumpadi, num mudou nadinha!
15 de agosto; fui ver uma casa que estava para alugar. o quintal constituía-se de terra sem cuidar, e mato para ser “matado” com mata-mato, porque capinar dá trabalho. perguntei ao dono porque não tinha nada plantado. ele me disse que antigamente havia uma parreira, mas que ela ​ estava uma anarquia quando ele comprou o terreno​. Diante dessa anarquia toda, o jeito foi cortar o mal pela raiz. 
20 de agosto; estive em manifestação pró-democracia na cidade de poços de caldas, juntamente com militantes de diversos setores e simpatizantes de causas populares vindos de várias cidades do sul de minas [a companheira de pé ao meu lado balançando a bandeirinha aos 83 anos foi quem me deu uma carona até a manifestação]. pude notar como essa gente é alegre, busca um país mais justo e solidário​. claro que nada na vida é branco no preto, mas foi impressionante ver que os mais abastados condenavam a manifestação enquanto a classe média e baixa apoiava a ideia de democracia e de programas sociais e cotas. este momento no Brasil expõe feridas muito antigas que talvez se resolvam com educação. há que ser educado para entender que a riqueza é de todos e que um país mais justo faz a todos mais felizes.
22 de agosto; participo de um encontro de filosofia com um professor da unicamp que vem travar embates curiosos em uma cidade que mantém a fé católica tal como a medieval, sendo deus o bonzinho que tudo vê. talvez abismado frente à realidade, o mestre então nos contou como o nietzche é o mais mal entendido dos filósofos, pois quando ele denuncia que deus está morto, ​é irônico. só acredita num deus que dance e traga alegria e graça, não num deus que puna, esse mais conhecido por nós.
nos últimos tempos li dois livros incríveis que tratam da questão da moral humana frente ao divino, um deles é o ‘crime do padre amaro’, do eça de queiroz, um dos autores imperdíveis da língua portuguesa do velho mundo. o outro, menos conhecido, é ‘o estranho misterioso’, do mark twain, que aborda um anjo caído que age sem o menor escrúpulo em uma vila medieval, fazendo e desfazendo. segundo ele, que não tem culpa nem pena de nada, essa coisa de moral é invenção dos homens, bando de malucos.