hoje vi um pouco do abecedário do Deleuze, que trouxe a vontade de me debruçar sobre a questão do poder, cuja presença sempre tentei evitar mas não mais pude.
vivo num mundo em que caso o indivíduo resolva perseguir sua satisfação primeira enquanto homem (seja um ser orgânico, espiritual ou metafísico) ao invés de reproduzir padrões naturalizados que em geral fogem dessa sua tranquilidade essencial, ele simplesmente se torna alvo de desafetos.
nem cheguei à letra P, portanto não sei se o rapaz francês fala de poder. mas o mundo revelou que as relações de poder são tantas e compõem de fato o todo dessa tecitura louca; não podemos ser simplesmente bons – no âmbito mais amoroso possível – sem que tenhamos que nos defender nesse espaço simples e pequeno que escolhemos ocupar; é como se para somente ser quem se é seja necessário erguer a cabeça e impor limites e fronteiras ad eternum. o mais estranho é que satisfazer-se em seu pequeno lugar causa desgosto àqueles que cismam em se colocar acima, de modo que se esquecem da própria existência primordial, aquela de seu corpo e espírito, se assim podemos dizer.
o que deleuze aborda como "fazer valer a diferença" pra mim implica a coragem de tentar ser quem se é, num processo constante e ininterrupto de construção desse "eu" que nem sabemos bem como identificar. agora, que tristeza dá compreender que o seu mínimo "eu" – em estando satisfeito na sua miséria – pode ser tão desprezado ou ludibriado pelas formas de poder vigentes.
a revolução, como já disseram alguns dos heróis das ruas, é deixar os "eus" se manifestarem livremente, sem as amarras de qualquer ismo ou chicote. mas muitos de nós ainda estamos mais preocupados com o poder que tememos perder para sermos capazes de libertar nossos "eus".
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