sábado, 22 de dezembro de 2018

Uma andorinha faz sim, verão

Neste ano de 2018 rolaram muitos altos e baixos, dessa maneira como a vida em geral flui, num pêndulo de emoções ininterruptas. Mas um acontecimento que me marcou, e emocionou, foi a chegada da andorinha em nossas vidas. 

.terça-feira

nesta tarde o Vinicius tinha ido à serralheria encomendar uns moirões para instalar na parreira do jardim. voltando da loja avistou uma andorinha minúscula dentro de uma poça d'água, na calçada. o dia estava chuvoso e ele decidiu trazer a bichinha para casa com esperança de que pudéssemos cuidar dela. 

assim que a vi liguei prum veterinário nosso amigo, que disse pra tentar alimentá-la com minhoca e papa de fubá. coloquei uma meia de lã numa cumbuca e isso passou a ser seu ninho, que tremia, piava baixo e quase nem abria o bico. 

fizemos a papinha num potinho de prata e colocamos água ao lado. eu segurava o corpinho dela com o maior cuidado e fazia com que seu bico tocasse na papinha. depois ficava observando se ela mastigava alguma coisa, às vezes parecia que sim – mas comida de passarinha é tão minúscula, ou pelo menos a que ela conseguia engolir, que parecia que o potinho de prata iria alimentá-la por um ano. isso se ela comesse alguma coisa.


.quarta-feira

quando acordamos a andorinha estava no meio da sala, parecia se recusar a ficar no "ninho" e gostava de olhar do lado de fora da janela, na certa na esperança de avistar sua mãe. comecei a pegá-la na mão e fazer carinhos na cabecinha, até hoje não sei se lhe soava afetivo ou ameaçador, confesso que não entendo nada de pássaros.

era lindo quando ela abria as asas e dava uma corridinha, asas tão bem feitas neste movimento de fechar e abrir. a passarinha me encantava cada dia mais, e a gente notava melhoras, a perninha que antes mancava já estava andando direitinho. levei ela no quintal para pegar um sol, mas ela ficava um pouco inquieta, não sei se se sentia presa ou se queria desesperadamente buscar sua família. na grama, não ficava parada, quase se meteu debaixo do pé de maracujá, e fez cocô por toda parte. 

Vinicius catou minhocas e tentou dar pra ela, que não comeu. então ele amassou e misturou na papinha de fubá. tentamos alimentá-la com uma seringa mas o bico era tão pequeno que mal se abria. na hora de dormir, tentei deixá-la no ninho para que fosse um pouco mais quentinho, mas ela logo saía, como antes. 




.quinta-feira

notei que a coisa com que mais me ocupava era a andorinha, a todo momento eu ia até a sala ver como ela estava, tentava dar água e papinha.

o Vinicius achou bom colocá-la num pauzinho, para ela treinar empoleirar-se. ficou muito fofa em cima da varinha de madeira, toda imponente. ao mesmo tempo ela seguia dando uma tremidas e quando eu ia dar comida ela fechava os olhos e ficava paralisada. ficamos preocupados mas seguimos na tentativa de alimentá-la e dar carinho. 

no fim da tarde ele me chamou e disse, Lila, acho que a andorinha morreu. e eu vi aquele corpinho, sem vida. foi um momento muito difícil, senti que a passarinha morava no meu coração, e chorei um choro como há muitos anos não chorava.



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