domingo, 30 de agosto de 2020

Muitos mundos, um só planeta



Há dois dias vi um longa do Denys Arcand disponível no Sesc em Casa, o Reino da beleza.

Aos poucos fui percebendo que o filme tratava sobre um dos reinos que existe aqui na Terra, o da classe rica que tem o privilégio de escolher o que faz e como faz, vai e vem a seu bel prazer. Ao retratar esta classe o autor se vale, ironicamente, sobre a velha máxima de que riqueza não traz felicidade.

De toda forma, sendo eu brasileira de classe média, – aquela velha média desprovida de bens – não pude deixar de me surpreender com a quantidade de atividades de lazer realizadas pelos ricos personagens no Canadá de Arcand. Pesca esportiva, esqui, golfe, cartas, futebol, tênis, tantas práticas que me soaram inumeráveis. Fiquei pensando sobre a desigualdade existente entre as culturas abastadas e as carentes, e o quão injusto se conforma nosso planeta para os seres que o habitam nessa "chamada" civilização.

No dia seguinte, por ocasião da abertura da mostra de cinema árabe, assisti ao documentário Gaza, que conta o dia a dia nessa faixa de terra de 40 quilômetros por onze onde vivem dois milhões de pessoas. Aí o bicho pegou. Como podemos co-habitar o mesmo planeta quando nossas conjunturas se diferem de maneira tão brutal? Alguns vivem literalmente presos em seus territórios minúsculos enquanto outros podem queimar combustível fóssil à vontade e são bem-vindos onde quer que decidam ir.

A pandemia só escancara que viver para uns pode facilmente ser uma delícia enquanto pra outros é uma dor com a qual se resignam, a fim de buscar alguma fresta de alegria e conforto. Que haja a possibilidade de outra civilização, que não aceite a dor e a indignidade humana e tenha nisso seu mote principal.