terça-feira, 22 de setembro de 2015

correspondência do sul de minas



10 de agosto: dois mineiros estão caminhando pelo pasto quando se deparam com um monte de bosta de vaca. um deles desanda a rir, no que o outro vira e diz:
      cumpadi, cê tá rindo do quê?
      ah, cumpadi, diz o outro, eu tô rindo d’ocê.
      de mim?
      sim, é que ocê vai morrer, e aí nós vai enterrar ocê. cê vai virar adubo, depois esterco, mato, e a vaca vai te comer, e cê vai virar esse monte de bosta aí.
eles continuam andando quando o segundo mineiro desanda a rir. o primeiro então pergunta: – tá rindo de que, cumpadi?
      ah, cumpadi, diz o outro, eu tô rindo d’ocê.
      de mim?
      sim, é que ocê vai morrer, e aí nós vai enterrar ocê. cê vai virar adubo, depois esterco, mato, e a vaca vai te comer, cê vai virar esse monte de bosta, e eu vou dizer, ô cumpadi, num mudou nadinha!
15 de agosto; fui ver uma casa que estava para alugar. o quintal constituía-se de terra sem cuidar, e mato para ser “matado” com mata-mato, porque capinar dá trabalho. perguntei ao dono porque não tinha nada plantado. ele me disse que antigamente havia uma parreira, mas que ela ​ estava uma anarquia quando ele comprou o terreno​. Diante dessa anarquia toda, o jeito foi cortar o mal pela raiz. 
20 de agosto; estive em manifestação pró-democracia na cidade de poços de caldas, juntamente com militantes de diversos setores e simpatizantes de causas populares vindos de várias cidades do sul de minas [a companheira de pé ao meu lado balançando a bandeirinha aos 83 anos foi quem me deu uma carona até a manifestação]. pude notar como essa gente é alegre, busca um país mais justo e solidário​. claro que nada na vida é branco no preto, mas foi impressionante ver que os mais abastados condenavam a manifestação enquanto a classe média e baixa apoiava a ideia de democracia e de programas sociais e cotas. este momento no Brasil expõe feridas muito antigas que talvez se resolvam com educação. há que ser educado para entender que a riqueza é de todos e que um país mais justo faz a todos mais felizes.
22 de agosto; participo de um encontro de filosofia com um professor da unicamp que vem travar embates curiosos em uma cidade que mantém a fé católica tal como a medieval, sendo deus o bonzinho que tudo vê. talvez abismado frente à realidade, o mestre então nos contou como o nietzche é o mais mal entendido dos filósofos, pois quando ele denuncia que deus está morto, ​é irônico. só acredita num deus que dance e traga alegria e graça, não num deus que puna, esse mais conhecido por nós.
nos últimos tempos li dois livros incríveis que tratam da questão da moral humana frente ao divino, um deles é o ‘crime do padre amaro’, do eça de queiroz, um dos autores imperdíveis da língua portuguesa do velho mundo. o outro, menos conhecido, é ‘o estranho misterioso’, do mark twain, que aborda um anjo caído que age sem o menor escrúpulo em uma vila medieval, fazendo e desfazendo. segundo ele, que não tem culpa nem pena de nada, essa coisa de moral é invenção dos homens, bando de malucos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário