sábado, 28 de maio de 2011

Notações paternas

A menina pergunta se o pai desistiu de vender o carro, mesmo. Então por que é que o papel anunciando ainda continua colado ali, no vidro. Ele diz que mantém em todo caso para a polícia, quando perguntarem o motivo do atraso nos documentos, aí fica fácil: é a venda, meu senhor, já vou vendê-lo e o novo dono que o regularize..

O pai não é cantor profissional, toca seu cavaco em casa, com as cordas envelhecidas; confessa que o convidaram pra tocar uns sambas num encontro de intelectuais reformados. Ele ainda tentou fugir; é bem na hora do jogo do Barcelona e Manchester, meu caro companheiro. Nos tempos de hoje, você grava o jogo, G. E ele não teve jeito senão aceitar o convite. Contente, em todo caso, por saber da reprise no domingo; canto o samba e procuro não saber do resultado, isso sim.

Encontra-o na rua no centro da cidadezinha, ela sentada num quiosque de sorvete, toma uma água no canudinho. Ele vem com seu gorrinho de gnomo velho, torço pra fazer frio, ou preciso tirar o gorro e meu cabelo fica todo pra cima. E essa camisa branca, pai, toda mofada? Pois é, dormi com ela e nem notei que estava assim quando saí.

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